Sou sem ser
Existo sem querer
Sou face oculta neste espelho da realidade
Onde as formas ganham corpo e as almas se dispersam entre rasgos de noite vazia
Sou paixão de fogo brando em lareira de casa abandonada
Sou astro morto que se vislumbra brilhante na terra de todas as existências humanas conhecidas
Forma esbatida, projectada por um candeeiro apagado numa parede desmoronada
Sou escultura de areia numa praia sem vida onde o mar se polui naturalmente
Veneno destilado em caves de horror, que não mata mas corrói
Seda apertada nalgum pescoço por umas mãos assassinas quaisquer
Fruto maldito de um amor não correspondido
Gerado numas entranhas não desejadas
Pedaços de gelo cortante em forma humana com misturas de sal
Lâmpada fundida em noite de Inverno numa qualquer rua sem saída
Virilidade castrada
Veias de ácido corrosivo bombeadas por uma máquina de ferro ferrugento
Mira técnica em noite de insónias.