Tuesday, November 13, 2007

Junto ao rio enquanto esperava pela brisa de TI

Sento-me a sombra do momento e deixo que a brisa fresca da solidão acalme o meu espírito cansado. Cansado de vaguear por esta realidade sem sentido em que se mergulha no labirinto existencial do nada e somos varridos pelo tempo e as suas sucessões casuais de factos aparentemente ilógicos e sem razão para nós comuns mortais. Labirinto sufocante de paredes amorfas de areia movediça, que parece querer nos sugar e dominar. Labirinto que não me deixa parar e olhar em volta para te procurar.
Deixo os sentidos cansados caírem sobre o chão incerto, pisado por todos, e fecho os olhos ao dia que amanheceu sem ti.
Caiem as folhas secas a meus pés, lembrando-me da passagem do tempo e mostrando a realidade que recuso ver em meu rosto, pois não quero perder a forma e encanto, para quando regressares me reconheceres… mas o tempo faz questão de me lembrar que existe e que por aqui também passa. Só não te trás com ele.


Alguns raios de sol que me queimam a pele lembram o teu toque, quente e doce, que nunca senti e lembram-me dos sonhos de Verão que não vivi.
Penso que choro, mas já não sinto nenhuma secreção correr em meu rosto. Acho que desaprendi a chorar.

sonhos

Os meus sonhos gritam por ti.
Ouço o seu lamento ecoar nas paredes....
lamentos que ressoam mais alto que os relógios, que me relembram a passagem do tempo e o facto de eu ainda existir.
Vejo uma miragem de ti.
Olho no espelho e sinto-te no meu olhar e consigo sentir o sabor dos teus lábios na minha boca.
Fecho os olhos e passo as mãos pelo meu corpo, pensando em ti.

vazio

Vou
Corro atrás
Paro
Espero
Não olho para trás
Uso um espelho
Reflexos do passado
Tu
Eu
Ninguém
Vazio

actualidade

Aproximei-me da minha não existência.
Não vejo e não me descubro no reflexo das minhas lágrimas desidratadas.
Parei
Já cá não estou, sou apenas palavras e fragmentos de um ser que por breves instantes comungou com a vida ou com aquilo que alguns chamam de vida.
Eu não acho que tenha vivido, acho mesmo que não sei o que é viver.
Saberá alguém?
Duvido.
Para a medicina ainda vivo. O cérebro e o coração ainda funcionam.
E o resto?
O resto não contará?
De que serve esta máquina vazia e inerte, mesmo que pujante de vida material?
Não serve para nada e não sirvo para nada.
Sou um ponto final perdido no fim de uma história que ninguém leu.

Monday, November 05, 2007

na estrada da vida

Vivo numa realidade de concreto e alcatrão, decorada com os verdes do campo. Realidade com paredes de gelo, forradas a nada. Rodeado pelo azul do mar imenso e indefinido.
Navegamos em jangadas metálicas pelas estradas de areia movediça, estradas que parecem não ter saída ou fim. Uma sucessão de caminhos, cruzamentos e rotundas que nos fazem quase sempre retornar ao ponto de partida, mas só não me fazem chegar até ti.

nada

Arrastei-me pela podridão do sentimento onde não te encontro.
Arrastei-me até à sombra da minha existência e deixei-me lá ficar, quieto, encolhido, sem ti, sem mim, sem nada. Eu e o vazio. No tudo que é nada. Onde até o negro das sombras é vazio. Antes sentia que elas me acolhiam, me abraçavam e me acariciavam, mas agora sinto que até as sombras se foram, calmamente, sem me avisar, sem se despedir, sem dizer que partiam ou porque o faziam.
Ficou o vácuo e eu.
Dois nada.
Estranho referir dois. Eu e o vácuo somos um só, somos nada, somos antimatéria.

Friday, September 14, 2007

Ando perdido neste fim do mundo
Por terras de Baco
Terras que se incendeiam de verde com salpicos de roxo.
O vento passa pelo meu corpo invisível nesta imensidão de luz multicolor sem deixar vestígios de tempo.
Visto-me de céu e flutuo com asas de fantasia pelos campos sumarentos cheios de vida palpitante
Lavram-se os campos
Podam-se as vinhas
Apanha-se a uva
Tudo passa em ciclos de vida sem que o meu corpo desça à terra para provar da tua boca o néctar divino que embriaga o mundo e devolve a vida ao espírito.
Sou rasto que o sol deixou e o mar envolveu, atirado pelas ondas ao vento para ganhar asas de sonho, passar pelo mundo em busca do teu regaço e me apaixonar pela tua ausência.
Toco nos telhados do vizinho e ouço conversas alheias
Os animais dormem
As crianças sonham
E os corpos descansam.
As raízes elevam-me aos céus e a seiva bruta enche as minhas veias de esperança.
Transponho camadas de realidade em busca de nada e de tudo, já me esqueci de procurar razões de existencialismo. Sou mera natureza e isso chega para alimentar a fé. Fé em ti e na tua essência.
És o ar que me mantêm
És a gravidade que me eleva.
Fecho os olhos e lá vou eu, sem destino, sem razão. Deixo que o acaso me leve envolto em forma tua.
O vinho enche os copos e com eles se faz a festa.
O ar enche-se de música e a vibração alimenta o meu corpo. Mergulho no mar da incerteza e deixo o incenso do teu ser embriagar o cansaço que por vezes sinto.
Recordo me das noites de cera acesa em que a tua ausência era o mote e o meu corpo pelo teu clamava. Gritos de guerra em lençóis vazios e brincadeiras de criança. Sonhos construídos em castelos de areia suspensos em nuvens de fantasia.
Passava os meus dedos pelo areal da minha pele e deixava as ondas do mar dos teus cabelos embriagar e envolver o meu Eu.
Meras recordações vazias, desprovidas de tempo e espaço, desprovidas de consistência e sem ordem definida.
Acreditar que não existes é acreditar que também eu não existo, é crer que não há matéria para ti e para mim.
Vozes animadas despertam os meus sentidos. Estes sentidos humanos que por razões que desconheço não morrem.

Sunday, September 09, 2007

na barca

Traço linhas sem cor ou forma. Procuro que o acaso desenhe o teu rosto que desconheço. Procuro nestes corpos baços sem graça ou encanto a luz da tua essência. Deixas-me aqui a morrer. Só. Vazio.
Escrevo palavras sem sentido, numa sucessão quase mecânica de ordem, para quê?
Sei lá eu bem. Provavelmente numa tentativa de ao tornar materiais estas letras, que de algum modo são também elas ideias e desejos, tu renasças ou te formes por entre aspectos de mim.
Quem és tu vazio? Quem és que me mantêm cativo a este nada? Porquê viver esta morte cheia de luz? Porque tenho eu de suportar este sol que queima os meus olhos e não me deixa ver-te?
É nas sombras que te encontro. É nos rastos de mim que te vejo surgir. É na essência que bebo que sinto que invades o meu corpo. Invades e me levas na maré do nada. Sento-me na barca e deixo que a corrente me leve. Sem destino, sem razão. Fecho os olhos para te ver e deixo a minha mão cair na corrente que nos conduz (eu e barca) e sinto o fresco da morte que me aquece o corpo gelado de emoções. Estas aqui na névoa que nos rodeia, sinto a tua presença no meu ser, nas minhas veias. Quem és não sei, mas sinto-te. Assim como, nada espero de ti e tudo quero.
O nada conduz esta barca de sonho e fantasia, pois são estes os dois elementos que lhe dão consistência. Os meus dedos que deslizam no leito, sentem corpos escaldantes que chamam por mim. Ouço os seus gemidos. Parecem sereias que chamam o meu nome, tentando levar-me para junto deles. Querem que o meu corpo se funda com o deles e me torne em mais um… mas não me deixarei arrastar por gemidos ou vozes de sedução, tenho a tua ilusão como guia.

Saturday, September 08, 2007

Formas

Agarrei-te
Costurei-te
Cortei-te as tiras
E enrolei-te no meu corpo.
Vesti-me da cor da tua pele e deixei o manto do luar beijar-nos, enquanto o meu calor se fundia com os teus tecidos.
Passei os lábios e a língua pelas linhas dos teus contornos para melhor te moldar e fiz do teu corpo a minha forma de desejo.
Caminhei com os dedos pelos teus adornos e vi diamantes, no lugar de olhos, brilharem e a ofuscarem a minha sede das pérolas de suor que decoravam a tua essência terrena.
Fazes-me perder o controlo
Reviras-me do avesso
Cravas os teus alfinetes em mim, as tuas cedas cegam-me e a musica que enchia a divisão passou a soar cada vez mais distante e entrei na orbita do teu ser. O incenso da tua pele embriagava os meus sentidos e vi-me mergulhar na corrente do teu afecto e prazer.
Querias tudo
O meu sabor
O meu toque
O meu calor
O meu beijo revitalizante
Não consegui resistir ao teu charme e a chuva de beijos teus enlouqueceram-me
Deixei de existir em mim e passei a ser uma parte de ti.

deixar o tempo passar

Luz divina de um Deus que ama sem questionar se o meu corpo arde ou não ao seu toque. Temo por não ter nada para te dar, a minha essência não é comparado com o céu que tens para oferecer.
As únicas testemunhas desta devoção permanecem em silêncio, corpos baços e mortos que apenas velam pela nossa presença, corpos nus dispostos em massa, sedentos da nossa vitalidade. Um amontoado de formas naturais vibrantes e perfumadas. Forma de sonho carnico embriagante. Somos feitos de restos de ti e em nós corre o teu sangue. Mas das tuas lágrimas elevei-me, único, renascido.
Preciso do teu amor
Devagar
Silencioso
Discreto
Meu e teu
Deixar o tempo passar em gestos de carinho teus… meus… nosso.

Sou um instrumento do teu amor

Sou o violino que tocas em voz baixa, discreto e silencioso.
Passas os dedos pelas minhas cordas com uma mestria impar, fazendo vibrar o meu corpo com o teu calor. Sinto o teu respirar em minha pele e a agitação do teu fluxo sanguíneo confere-me vida. Vida que só faz sentido quando os nossos corpos se juntam e em orbita entramos, enchendo o nosso lugar sagrado de som, movimento e amor. Sinto os teus dedos deslizarem, por este meu corpo frio, manipulando-me como uma marioneta que se move ao som dos teus caprichos, somos um só neste nosso mundo inventado e fantasiado. Somos um só neste céu ardente e flamejante, tão cheio de desejo, som e ritmo.
Novos sons se inventam, novas historias se contam, mas seremos apenas nós nesta cumplicidade, neste sonho feito a dois num mundo tão próprio.
Adoro o modo como as tuas mãos pegam no meu corpo e o aproximam de ti. Sinto o céu no teu toque e no movimento do teu corpo sobre mim…. A calma dentro de mim vem do modo como me tocas…. Neste espaço em que posso respirar e acredito existir para ti e para mim. Sente o movimento do meu peito… vê como ecoas dentro de mim, num palpitar ardente e rejuvenescedor.
Bebo a inspiração dos teus gestos e do teu olhar fechado sobre mim, em que o teu espírito invade as minhas cordas magicas e fazem sair de mim o mais maravilhoso dos sons. Sons que fazem dançar os anjos não caídos sobre nos. Sons de dor, prazer, amor, mas também de paz sobre este mundo perdido em que me encontro em ti.
Canto ao som dos teus desejos, ao som do teu desígnio. Fazes de mim o que queres ou o que tão bem sabes. Quando me acaricias deixo de ser musica e passo a ser vibração e arte, os nossos ouvidos deixam de existir e em silencio vibracional o meu ser se funde com o teu espírito e o corpo se derrete num leito quente, em que as tuas mãos e o meu corpo deixam de ter principio e fim e o teu sangue corre em minhas veias, veias antes secas e mortas. Veias gastas com o passar do tempo que não muda, veias secas como o deserto morto sequioso da tua essência. Meu corpo busca o oásis refrescante de ti e ganha vida cada vez que o tocas. Ganha vida cada vez que o levantas, colocas junto a tua pele e passeias fervorosamente sobre as suas cordas. O sangue volta a fluir, o rio da minha existência volta a ser refrescante e o céu abre-se para nós. Um raio desce até nos e eu acordo com a luz do dia.

Toque leve de dedos na linha condutora da vida

Deixo cair o meu olhar vago no areal seco e triste da minha pele
Contemplo-a na tentativa de procurar nela os registos do amor que senti por ti
De encontrar em seus pontos rasgos da tua natureza e da tua boca
Escrevi com cores claras as palavras doces que me embriagaram e os sentimentos que pareciam reais e palpáveis e as deitei ao sol… tornei-me num Ícaro sentimental.
Queimei as asas que queria usar para voar até ti.
Toquei de leve o teu coração e o seu calor atravessou o meu corpo
Senti a chama que te mantêm vivo e vivi em ti
O teu olhar com rasgos de terra atravessou-me a alma e revitalizou-me o corpo e eu cai em desejo.

Tuesday, June 26, 2007

...

Vagueio sem alma por este caminho incerto e sem estradas secundárias por onde fugir.
Queria caminhar na tua direcção e deixar a ponta dos meus dedos ditar o nosso destino. Percorrer os teus cabelos como um deslizar de dedos por entre a espuma do mar e sentir no teu sorriso a solidez deste solo, que surge movediço.
Mas deixei a minha alma numa mala de cartão, numa qualquer estação de serviço onde me sentei para repousar da falta de gestos teus. Não foi esquecimento. Deixei de ter forças para a carregar. E continuei este percurso.
Só, sem alma, sem ti.
Percorro pontes de ferro, armações de cimento, caminhos de alcatrão e tudo me parece um grande deserto. Areia fina, cortante, ardente, asfixiante e cansativa.
Imagino-me a passear pelos contornos do teu corpo, refrescante, quente, suave, revigorante. E suspiro.
Apetece deitar-me e continuar nesta miragem de ti. Deitado à sombra de uma qualquer estrutura metálica, longe do sol e de olhos inquisidores e sentir o teu beijo refrescante, o teu perfume marinho e o teu toque reconfortante. E sentir-me renascer. Sentir uma onda de vida percorrer as minhas veias, encher esta carcaça seca e disforme de esperança e sorrir por entre os lábios teus nos meus.


Mas não passa de uma miragem…


Este sol não me deixa ter sombra nem reflexos de realidades verdadeiras.

Saturday, May 26, 2007

Sou sem ser
Existo sem querer
Sou face oculta neste espelho da realidade
Onde as formas ganham corpo e as almas se dispersam entre rasgos de noite vazia
Sou paixão de fogo brando em lareira de casa abandonada
Sou astro morto que se vislumbra brilhante na terra de todas as existências humanas conhecidas
Forma esbatida, projectada por um candeeiro apagado numa parede desmoronada
Sou escultura de areia numa praia sem vida onde o mar se polui naturalmente
Veneno destilado em caves de horror, que não mata mas corrói
Seda apertada nalgum pescoço por umas mãos assassinas quaisquer
Fruto maldito de um amor não correspondido
Gerado numas entranhas não desejadas
Pedaços de gelo cortante em forma humana com misturas de sal
Lâmpada fundida em noite de Inverno numa qualquer rua sem saída
Virilidade castrada
Veias de ácido corrosivo bombeadas por uma máquina de ferro ferrugento
Mira técnica em noite de insónias.

Sunday, February 11, 2007

Consegues ouvir a minha alma rastejar?

Quero-te no meu quarto
Rebolo no teu ser
Brinco no patamar da nossa existência
Anda
Vem
Não me interpretes mal
Quero-te aqui
Enfrenta o meu olhar
Atira-me um brinquedo
Eu vou buscar

Não me queres?

Não faz mal

Vamos apenas brincar

É Inverno na minha cama

Não sentes as nuvens agitarem-se na minha atmosfera?

Sente o vento que sopra sobre mim arrasar com a paz do teu corpo.
Sente a tempestade que chega e nos faz estremecer.

Os lençóis sobressaltam com o furacão do meu desejo
Arrastado pelo vento dos nossos corpos nus
As nuvens agitam-se e a trovoada ecoa
Tudo treme e não vejo as estrelas do teu olhar
O céu rasga-se ao sabor das tuas unhas
As gotas de suor enchem nossos corpos e nada as faz parar de cair
Não te consigo ouvir nem ver
A escuridão apenas me deixa sentir o vibrar sísmico do teu corpo ardente
O solo range e crateras abrem-se para ti
Sinto os nossos corpos suspensos num turbilhão
Balançando por entre vendavais
o desejo sacode os nossos corpos que nem trapos
e a nossa carne transforma-se em energia viva e animada.
Soldo as minhas mãos às tuas
Cravo os meus dentes na tua carne
Para que este temporal não nos separe.
A agitação aumenta
Todos os elementos se intensificam
A trovoada soa mais forte
O suor cai com mais intensidade
Deixo de sentir o teu corpo, só sinto o meu
A dor aumenta
Mas não te consigo largar
Tento gritar por ti
mas só sai um gemido.
Se te largo voamos
Arrastados pelo desejo
Se te largo voamos
Para longe


Mergulhados em pensamentos distantes e primaveris.

Let me Play - Play with Me

Quero ser o teu boneco.
Vem brincar comigo.
Articula as minhas pernas, os meus membros.
Passa as tuas mãos pelo meu corpo de marioneta.
Faz-me vibrar com as tuas brincadeiras.
Faz-me teu.
Tira-me a roupa e dá-me banho.
Quero sentir as tuas mãos manipularem-me
Faz de mim o teu boneco
Brinca comigo
Articula o meu corpo
Faz dele o teu capricho, a tua manifestação de desejo.
Põe-me onde melhor te convier.
Põe-me no teu centro de prazer.
Transforma-te em alquimista e anima-me
Não precisas de pedra alguma
Basta o sopro de teus lábios
Basta o calor do teu corpo
Invade este corpo material, plástico
Anima-me, faz-me renascer para ti.
Tira-me a roupa e dá-me banho
Quero sentir a carícia das tuas mãos húmidas.
Percorre o meu corpo e mostra-me como te dar prazer.
Brinca comigo
Ensina-me a brincar contigo.
Conversa comigo, chama-me nomes
Brinca com a minha existência.
Quero ser o teu boneco
Forma definida pelas tuas mãos
Barro da tua existência.
Faz do meu corpo o teu capricho, o teu desejo
Dou-te o que queres, mostra-me como.
Sou fantoche, sou marioneta, sou teu.
Anima este corpo de prazer e de fantasia
Não preciso de castelos, apenas a tua cama nos serve tão bem
Deita-me a teu lado e faz deste corpo o que quiseres.
Brinca comigo
Articula o meu corpo.
Faz de mim o teu desejo
A tua fonte de prazer.

Saturday, February 10, 2007

Ode

Tomai, todos, e comei
este é o meu corpo
que vos será entregue.
Deita-te a meu lado, sobre este altar de pecado, e vem comungar comigo.
Come do meu corpo e purifica-te.
Prova o sabor da minha pele e sentiras o sal da vida que corre em meus poros.
Vem até mim.
Liberta-te de crenças e tabus. Somos seres de luz na nossa maneira de agir. E do pecado nasce a vida e na vida nos elevamos aos céus.
Aceita a minha mão e sobe até mim.
Sente a energia que liberto.
Sente o calor que vibra em meu corpo e deixa-me encher o teu coração e acender nele o fogo do meu amor. Amor tão eterno como a própria existência.
Tomai, todos e bebei
Este é o cálice do meu sangue
O sangue da nova e eterna aliança.
Se dele beberes sentiras a remissão dos pecados e renasceras para o mundo.
Vem te deitar a meu lado. Bebe de mim, desta fornalha ardente que nasceu para te servir.
Vem, não temas.
Vê como a minha pele se rasga ao teu toque. Sente a força do meu sentimento por ti. Come do meu corpo e viveras para sempre. Come de mim e serás livre.
Bebe da minha essência e encontrarás a purificação.

Nota: imagem de Fabiano Zaino

Saturday, January 20, 2007

Quando estas a meu lado

Não consigo dormir.
Vejo o teu corpo quente ao lado do meu.
Passeio os meus dedos por ti
Escrevo na tua pele palavras de desejo
Escorre pelo meu rosto uma lágrima e outra.
Quero-te
Desejo-te
Apetece-me beijar-te
Sacudir-te
Arrancar-te dessa letargia
Gritar o teu nome enquanto cravo as minhas garras na tua carne.
Cravar os meus dentes no teu pescoço
Passar com a minha barba em teus contornos
Rasgar-te até fazeres parte de mim.
Deixar nossas veias se fundirem e nossos vasos serem unos.
Partilharmos o mesmo leito de prazer e de carne.
Quero-te
Desejo-te
Apetece-me beijar-te
Sacudir-te
Ter-te
Ser teu.


Ainda dormes, reviraste na cama e mudas de posição

made by Fabiano Zaino

Thursday, January 18, 2007

Pegadas essenciais


Raiva silenciosa num ecoar de nada vago como essência de ti.
Observo o azul brilhante com reflexos de prata, em busca da razão de existires fora de mim e do todo que sou.
Quem sou? Não sei, cada vez menos encontro resposta a esta questão. Sou talvez o amor de ninguém, o amor de algum ser passado ou futuro, mas nunca neste tempo presente. Passei de anjo a demónio e fiquei-me pela mortalidade de uma existência sem razão, objectivo ou futuro. Passei a ser mais um na multidão, passei a ser mais um reflexo da verdadeira realidade que não é esta. Não sou, não existo e jamais existirei neste tempo em que o tempo não existe e para nada serve.
Vagueio por esta areia fina e mutável onde o mar apaga o rasto das minhas passagens. Não deixo rasto de mim neste mundo e caminho para o esquecimento existencial. Serei mais um que não existiu, mais um vazio a ocupar um espaço no cemitério. Serei mais espaço ocupado no arquivo dos registos.
Tento marcar mais um pouco as minhas pegadas, mas de nada serve, de nada mesmo. Não posso lutar contra a minha falta de existência, não posso lutar contra esta apatia medíocre que me funde com a sombra do tempo e que me anula o ser.
Carne, ossos e pele… em breve nem isso estará aqui para registar a minha passagem. Passagem que não sei a que se deve, nem para que serve… não sei para quê, nem porquê.
Podia fugir, mas não adianta, para onde for existirei e continuarei a não existir. Fugir de mim também não resolve… pois tudo o que faço parte de mim e abstrair-me de mim só resultaria por uns instantes não eternos. Sou obrigado a coabitar comigo, mesmo que não queira e mesmo que seja contra isso.
Queria apagar esta luz… queria mergulhar nesta escuridão de mim e não emergir a esta realidade que me sufoca e me mantêm cativo. Queria condensar-me no ar e voar livremente por entre as partículas gasosas que compõem a nossa atmosfera. Queria ser uma partícula de água e misturar-me com as outras milhares e deixar de me questionar.
Queria ser mais um grão de areia neste areal branco e puro, varrido pelo mar e pelo vento.
Queria ser invisível, não ter consciência, não pensar, nem reclamar. Queria não ser mais do que aquilo que já não sou.
Leva-me contigo
Tira-me daqui
Liberta-me ao vento
Que eu vou.

Desejo matinal



Os meus dedos caminham, dedo ante dedo, pelas linhas do teu corpo nu em minha mente.
És forma… desejo.
Patino na lisa superfície das tuas ancas e rastejo direito para os teus pés.
És calor… desejo.
Deixo as minhas unhas acariciarem as tuas pernas, lideradas pela minha língua sedenta do teu sal.
És suspiro…desejo.
Acaricio as tuas nádegas macias e apetecíveis, enquanto me delicio a dar-te prazer.
És sabor… desejo.
O teu corpo chama pelo meu e as tuas veias vibram ao mais ínfimo toque de um pelo meu.
És perfume… desejo.
Nossos corpos fundem em perfeita harmonia e sinto que este momento é eterno… até termos atingido o orgasmo dos sentidos.

Tuesday, January 16, 2007

Esta noite...

Esta noite preciso de uma boca para devorar.
Preciso de uns olhos para me comer.
Preciso de umas mãos para me arrancar a pele.
Quero sentir umas unhas a rasgar esta membrana
Quero sentir uns dedos larvosos a apodrecerem-me a carne e a matarem-me de desejo.

Sinto o teu olhar penetrar em mim…

Sinto o teu olhar penetrar em mim… a cor dos teus olhos que não vejo incendeiam o mais profundo dos meus sentimentos. Vejo-me e revejo-me em ti. Na tua expressão dura e rude esperas que eu ceda aos teus caprichos. A tua boca revela um desejo malandro de se envolver sem se entregar. Uma brincadeira de crianças em que ninguém sai magoado e somos apenas dois seres a partilhar um mundo encantado que preferes esconder atrás de uma estátua de gelo cortante. Conseguir ver a tua cor é entrar nesse teu mundo labiríntico de cor, divertimento e prazer. É entrar nesse teu mundo onde te perdes e nem sempre te encontras.
Escondes-te por trás dessa tua pele e tens medo que o equilíbrio natural das tuas entranhas espirituais seja abalado e que caia por terra essa tua armadura. Tens medo de revelar que ainda és uma criança em corpo de guerra.
Deixa-me envolver-te. Deixa que as minhas mãos derretam o teu gelo e que a minha boca te devolva a cor. Sente o meu respirar junto do teu bater. Sente o fluir do meu sangue e deixa correr o sangue em tuas veias. Funde-te comigo e deixa que o mármore em que te tornaste se volatilize e possamos os dois caminhar nesse teu jardim interino que teimas em proteger. Não me assustas com esse teu ar mona lizico, muito pelo contrário, mais desejo sinto em derrubar essas paredes de aço e partilhar contigo os tesouros que guardo em meu peito.
Quero sentir as tuas mãos geladas em meu corpo ardente e quero que acalmes esta fúria inflamável…deixa-te contagiar pelo vírus do desejo carnal e espiritual… Não tenhas medo. Deixa-me beijar-te. Bebe da minha boca o elixir da vida. Sente na minha saliva o néctar dos deuses. Sente nas minhas mãos, que afagam os teus cabelos, o desejo de te fazer renascer para a realidade em que só existimos nos os dois. Realidade essa em que a tua essência se mistura com a minha e tu, meu soldado de pedra, te revelas como amante e ser de luz eterna. Não precisas de te esconder mais nesse mausoléu labiríntico, vem brincar comigo neste pátio de constelações e astros flamejantes, onde podemos mergulhar um no outro eternamente.
Será que alguma vez deixaras de ser essa estátua eterna?
Será que alguma vez te tornarás num ser de desejos etéreos?
Deixa que a tua essência faça parte da minha… anda… vem.
Espero por ti.
Não temas e seremos mortais.

Como me deixas

Tu deixas-me animal
Irracional
Incoerente
Ilógico
Deixa-me sentir-te
Provar-te
Tocar-te
Acariciar-te
Rasgar-me ao teu toque
Soltar a minha alma
Gritar de prazer
E chamar por ti
Bebermos o néctar dos Deuses
Em nossos corpos nus
Puros
Imaculados
Efervescentes de desejo
Abrir o meu coração
Ao teu respirar
Ao teu toque
Ao teu sangue em mim
Provar o teu sal
Tempero da vida
Desejo das nossas bocas
Quentes
Mortais
Sedentas
Sou teu aqui e agora
Sempre
No mundo dos corpos
Dos desejos descontrolados
Tu
Eu
Um só