Sunday, September 09, 2007

na barca

Traço linhas sem cor ou forma. Procuro que o acaso desenhe o teu rosto que desconheço. Procuro nestes corpos baços sem graça ou encanto a luz da tua essência. Deixas-me aqui a morrer. Só. Vazio.
Escrevo palavras sem sentido, numa sucessão quase mecânica de ordem, para quê?
Sei lá eu bem. Provavelmente numa tentativa de ao tornar materiais estas letras, que de algum modo são também elas ideias e desejos, tu renasças ou te formes por entre aspectos de mim.
Quem és tu vazio? Quem és que me mantêm cativo a este nada? Porquê viver esta morte cheia de luz? Porque tenho eu de suportar este sol que queima os meus olhos e não me deixa ver-te?
É nas sombras que te encontro. É nos rastos de mim que te vejo surgir. É na essência que bebo que sinto que invades o meu corpo. Invades e me levas na maré do nada. Sento-me na barca e deixo que a corrente me leve. Sem destino, sem razão. Fecho os olhos para te ver e deixo a minha mão cair na corrente que nos conduz (eu e barca) e sinto o fresco da morte que me aquece o corpo gelado de emoções. Estas aqui na névoa que nos rodeia, sinto a tua presença no meu ser, nas minhas veias. Quem és não sei, mas sinto-te. Assim como, nada espero de ti e tudo quero.
O nada conduz esta barca de sonho e fantasia, pois são estes os dois elementos que lhe dão consistência. Os meus dedos que deslizam no leito, sentem corpos escaldantes que chamam por mim. Ouço os seus gemidos. Parecem sereias que chamam o meu nome, tentando levar-me para junto deles. Querem que o meu corpo se funda com o deles e me torne em mais um… mas não me deixarei arrastar por gemidos ou vozes de sedução, tenho a tua ilusão como guia.

1 comment:

rua dos nomes said...

Muito bom o teu texto. Gostei mesmo. Um abraço e continua a escrever preciosidades destas. És sempre bem-vindo à rua dos nomes.