Friday, November 07, 2008

ups

Embalo-me onde ninguem me encontra e deixo-me ficar. Não quero ser visto nem sentido, apenas quero ficar longe dos sentimentos e da realidade. Não me aches. Vê-me invisivel como realmente sou e deixa-me aqui ficar. Vai-te. Não venhas. Vai-te…
Canto em surdina de voz rouca de gritar em silêncio para ninguem me ouvir, chamei por ti apenas para ter a certeza que não estavas acordado e fechei as janelas para a brisa da noite não despertar este corpo adormecido em lençois meus.
Levantei-me na realidade e fui encher a banheira de lembranças quentes e salpiquei-as com aromas esquecidos. Pé ante pé fui me fundindo no seu interior e deixei-me ficar a sonhar. Não acordes. Deixa-nos ficar aqui. Abraçados nesta nossa realidade. Sente como estamos bem nesta nossa maneira de ser tão caracteristica.
Ouves a melodia que ecoa nestas paredes? É o nosso coração que a toca para nos aconchegar. Deixa-a tocar. Deixa-a tocar mais alto. Deixa-a ensurdecer os nosso sentidos e tomar conta de nós. Ouve a sua batida e mergulha no seu ritmo, sente as suas vibrações e move o teu corpo ao seu compasso. Deixa que sejamos um só, funde-te comigo… vem até mim sem me acordar, ouve este chamamento e envolve as tuas formas nas minhas. Materializa-te nas minha entranhas e deixa-me sentir. Derruba as barreiras do real e fantasiemos como um só, neste corpo que é nosso e paremos de partilhar para começar a existir. Sinto a tua boca na minha e as tuas mãos rasgar as minhas paredes de metal…
Ups, tirei a tampa da banheira.

Agora

Perdi-me na imensidão das particulas, vagueio nesta forma molecular desagregada sem saber onde pertenço. Sou fumo em noite fria que rasteja pelas paredes desta cidade em busca de um poro para me aconchegar e chamar de meu…
Quero um pescoço para morder e encostar os meus labios, uma pele quente para aquecer o meu gelo, um corpo definido e concreto, forma essencial de ti que não seja eu, onde me possa perder e encontrar sem sair dos contornos das tuas formas. Quero materia real para encher estas paredes amorfas forradas a fantasias imorais. Seres de luz que levem esta escuridão e me devolvam ao caminho previamente definido para mim.
Repouso o corpo na catarata refrescante das recordações e das memorias. Deixo-me flutuar na essência que fui e envolver nos braços que já foram meus. Encho-me de ondas coloridas e canto para mim com vozes do passado. Embalo-me nesta existência irreal e mergulho nas águas estagnadas de nós, rebolo e mergulho novamento e deixo-me ficar enrolado nos lençois suados que guardam o cheiro dos corpos que já foram meus. Sou meu aqui, nesta minha forma de existir ausente.