Vagueio sem alma por este caminho incerto e sem estradas secundárias por onde fugir.
Queria caminhar na tua direcção e deixar a ponta dos meus dedos ditar o nosso destino. Percorrer os teus cabelos como um deslizar de dedos por entre a espuma do mar e sentir no teu sorriso a solidez deste solo, que surge movediço.
Mas deixei a minha alma numa mala de cartão, numa qualquer estação de serviço onde me sentei para repousar da falta de gestos teus. Não foi esquecimento. Deixei de ter forças para a carregar. E continuei este percurso.
Só, sem alma, sem ti.
Percorro pontes de ferro, armações de cimento, caminhos de alcatrão e tudo me parece um grande deserto. Areia fina, cortante, ardente, asfixiante e cansativa.
Imagino-me a passear pelos contornos do teu corpo, refrescante, quente, suave, revigorante. E suspiro.
Apetece deitar-me e continuar nesta miragem de ti. Deitado à sombra de uma qualquer estrutura metálica, longe do sol e de olhos inquisidores e sentir o teu beijo refrescante, o teu perfume marinho e o teu toque reconfortante. E sentir-me renascer. Sentir uma onda de vida percorrer as minhas veias, encher esta carcaça seca e disforme de esperança e sorrir por entre os lábios teus nos meus.
Mas não passa de uma miragem…
Este sol não me deixa ter sombra nem reflexos de realidades verdadeiras.