Friday, September 14, 2007

Ando perdido neste fim do mundo
Por terras de Baco
Terras que se incendeiam de verde com salpicos de roxo.
O vento passa pelo meu corpo invisível nesta imensidão de luz multicolor sem deixar vestígios de tempo.
Visto-me de céu e flutuo com asas de fantasia pelos campos sumarentos cheios de vida palpitante
Lavram-se os campos
Podam-se as vinhas
Apanha-se a uva
Tudo passa em ciclos de vida sem que o meu corpo desça à terra para provar da tua boca o néctar divino que embriaga o mundo e devolve a vida ao espírito.
Sou rasto que o sol deixou e o mar envolveu, atirado pelas ondas ao vento para ganhar asas de sonho, passar pelo mundo em busca do teu regaço e me apaixonar pela tua ausência.
Toco nos telhados do vizinho e ouço conversas alheias
Os animais dormem
As crianças sonham
E os corpos descansam.
As raízes elevam-me aos céus e a seiva bruta enche as minhas veias de esperança.
Transponho camadas de realidade em busca de nada e de tudo, já me esqueci de procurar razões de existencialismo. Sou mera natureza e isso chega para alimentar a fé. Fé em ti e na tua essência.
És o ar que me mantêm
És a gravidade que me eleva.
Fecho os olhos e lá vou eu, sem destino, sem razão. Deixo que o acaso me leve envolto em forma tua.
O vinho enche os copos e com eles se faz a festa.
O ar enche-se de música e a vibração alimenta o meu corpo. Mergulho no mar da incerteza e deixo o incenso do teu ser embriagar o cansaço que por vezes sinto.
Recordo me das noites de cera acesa em que a tua ausência era o mote e o meu corpo pelo teu clamava. Gritos de guerra em lençóis vazios e brincadeiras de criança. Sonhos construídos em castelos de areia suspensos em nuvens de fantasia.
Passava os meus dedos pelo areal da minha pele e deixava as ondas do mar dos teus cabelos embriagar e envolver o meu Eu.
Meras recordações vazias, desprovidas de tempo e espaço, desprovidas de consistência e sem ordem definida.
Acreditar que não existes é acreditar que também eu não existo, é crer que não há matéria para ti e para mim.
Vozes animadas despertam os meus sentidos. Estes sentidos humanos que por razões que desconheço não morrem.

Sunday, September 09, 2007

na barca

Traço linhas sem cor ou forma. Procuro que o acaso desenhe o teu rosto que desconheço. Procuro nestes corpos baços sem graça ou encanto a luz da tua essência. Deixas-me aqui a morrer. Só. Vazio.
Escrevo palavras sem sentido, numa sucessão quase mecânica de ordem, para quê?
Sei lá eu bem. Provavelmente numa tentativa de ao tornar materiais estas letras, que de algum modo são também elas ideias e desejos, tu renasças ou te formes por entre aspectos de mim.
Quem és tu vazio? Quem és que me mantêm cativo a este nada? Porquê viver esta morte cheia de luz? Porque tenho eu de suportar este sol que queima os meus olhos e não me deixa ver-te?
É nas sombras que te encontro. É nos rastos de mim que te vejo surgir. É na essência que bebo que sinto que invades o meu corpo. Invades e me levas na maré do nada. Sento-me na barca e deixo que a corrente me leve. Sem destino, sem razão. Fecho os olhos para te ver e deixo a minha mão cair na corrente que nos conduz (eu e barca) e sinto o fresco da morte que me aquece o corpo gelado de emoções. Estas aqui na névoa que nos rodeia, sinto a tua presença no meu ser, nas minhas veias. Quem és não sei, mas sinto-te. Assim como, nada espero de ti e tudo quero.
O nada conduz esta barca de sonho e fantasia, pois são estes os dois elementos que lhe dão consistência. Os meus dedos que deslizam no leito, sentem corpos escaldantes que chamam por mim. Ouço os seus gemidos. Parecem sereias que chamam o meu nome, tentando levar-me para junto deles. Querem que o meu corpo se funda com o deles e me torne em mais um… mas não me deixarei arrastar por gemidos ou vozes de sedução, tenho a tua ilusão como guia.

Saturday, September 08, 2007

Formas

Agarrei-te
Costurei-te
Cortei-te as tiras
E enrolei-te no meu corpo.
Vesti-me da cor da tua pele e deixei o manto do luar beijar-nos, enquanto o meu calor se fundia com os teus tecidos.
Passei os lábios e a língua pelas linhas dos teus contornos para melhor te moldar e fiz do teu corpo a minha forma de desejo.
Caminhei com os dedos pelos teus adornos e vi diamantes, no lugar de olhos, brilharem e a ofuscarem a minha sede das pérolas de suor que decoravam a tua essência terrena.
Fazes-me perder o controlo
Reviras-me do avesso
Cravas os teus alfinetes em mim, as tuas cedas cegam-me e a musica que enchia a divisão passou a soar cada vez mais distante e entrei na orbita do teu ser. O incenso da tua pele embriagava os meus sentidos e vi-me mergulhar na corrente do teu afecto e prazer.
Querias tudo
O meu sabor
O meu toque
O meu calor
O meu beijo revitalizante
Não consegui resistir ao teu charme e a chuva de beijos teus enlouqueceram-me
Deixei de existir em mim e passei a ser uma parte de ti.

deixar o tempo passar

Luz divina de um Deus que ama sem questionar se o meu corpo arde ou não ao seu toque. Temo por não ter nada para te dar, a minha essência não é comparado com o céu que tens para oferecer.
As únicas testemunhas desta devoção permanecem em silêncio, corpos baços e mortos que apenas velam pela nossa presença, corpos nus dispostos em massa, sedentos da nossa vitalidade. Um amontoado de formas naturais vibrantes e perfumadas. Forma de sonho carnico embriagante. Somos feitos de restos de ti e em nós corre o teu sangue. Mas das tuas lágrimas elevei-me, único, renascido.
Preciso do teu amor
Devagar
Silencioso
Discreto
Meu e teu
Deixar o tempo passar em gestos de carinho teus… meus… nosso.

Sou um instrumento do teu amor

Sou o violino que tocas em voz baixa, discreto e silencioso.
Passas os dedos pelas minhas cordas com uma mestria impar, fazendo vibrar o meu corpo com o teu calor. Sinto o teu respirar em minha pele e a agitação do teu fluxo sanguíneo confere-me vida. Vida que só faz sentido quando os nossos corpos se juntam e em orbita entramos, enchendo o nosso lugar sagrado de som, movimento e amor. Sinto os teus dedos deslizarem, por este meu corpo frio, manipulando-me como uma marioneta que se move ao som dos teus caprichos, somos um só neste nosso mundo inventado e fantasiado. Somos um só neste céu ardente e flamejante, tão cheio de desejo, som e ritmo.
Novos sons se inventam, novas historias se contam, mas seremos apenas nós nesta cumplicidade, neste sonho feito a dois num mundo tão próprio.
Adoro o modo como as tuas mãos pegam no meu corpo e o aproximam de ti. Sinto o céu no teu toque e no movimento do teu corpo sobre mim…. A calma dentro de mim vem do modo como me tocas…. Neste espaço em que posso respirar e acredito existir para ti e para mim. Sente o movimento do meu peito… vê como ecoas dentro de mim, num palpitar ardente e rejuvenescedor.
Bebo a inspiração dos teus gestos e do teu olhar fechado sobre mim, em que o teu espírito invade as minhas cordas magicas e fazem sair de mim o mais maravilhoso dos sons. Sons que fazem dançar os anjos não caídos sobre nos. Sons de dor, prazer, amor, mas também de paz sobre este mundo perdido em que me encontro em ti.
Canto ao som dos teus desejos, ao som do teu desígnio. Fazes de mim o que queres ou o que tão bem sabes. Quando me acaricias deixo de ser musica e passo a ser vibração e arte, os nossos ouvidos deixam de existir e em silencio vibracional o meu ser se funde com o teu espírito e o corpo se derrete num leito quente, em que as tuas mãos e o meu corpo deixam de ter principio e fim e o teu sangue corre em minhas veias, veias antes secas e mortas. Veias gastas com o passar do tempo que não muda, veias secas como o deserto morto sequioso da tua essência. Meu corpo busca o oásis refrescante de ti e ganha vida cada vez que o tocas. Ganha vida cada vez que o levantas, colocas junto a tua pele e passeias fervorosamente sobre as suas cordas. O sangue volta a fluir, o rio da minha existência volta a ser refrescante e o céu abre-se para nós. Um raio desce até nos e eu acordo com a luz do dia.

Toque leve de dedos na linha condutora da vida

Deixo cair o meu olhar vago no areal seco e triste da minha pele
Contemplo-a na tentativa de procurar nela os registos do amor que senti por ti
De encontrar em seus pontos rasgos da tua natureza e da tua boca
Escrevi com cores claras as palavras doces que me embriagaram e os sentimentos que pareciam reais e palpáveis e as deitei ao sol… tornei-me num Ícaro sentimental.
Queimei as asas que queria usar para voar até ti.
Toquei de leve o teu coração e o seu calor atravessou o meu corpo
Senti a chama que te mantêm vivo e vivi em ti
O teu olhar com rasgos de terra atravessou-me a alma e revitalizou-me o corpo e eu cai em desejo.