Sou invisível à realidade que a meus pés passa, consigo
ainda sentir a sua brisa na sua planta.
Brinco com as chaves do meu coração enquanto balanço as
minhas pernas, como uma criança. Gostava de saltar daqui, voar em voo
decrescente e planar sobre a tua cabeça. Sorrio para o mundo. É tão bonito.
Deixei a porta aberta para os anjos entrarem e acendi umas
velas para melhor receber a noite. Preferia receber-te a ti, mas aqui não
consegues chegar. Nem tu nem ninguém. Vivo neste limbo onde só as almas
errantes existem. E nenhum mortal nos consegue ver. É fascinante ver o brilho
da chave que seguro na minha mão, reflecte as estrelas e o luar. É de um
material ainda não descoberto pela ciência. Tento equilibrala na ponta dos meus
dedos. A sua beleza é mesmo hipnotizante. O seu brilho intensifica-se e ela
foge de mim. Começa a flutuar no ar e a sua luz quase que me cega. Tento-to
alcança-la mas ela parece dirigir-se para o solo. Não sei que fazer. Salto
atrás dela. Sinto-me uma estrela cadente, a velocidade vai aumentando e
sinto-me cada vez mais próximo do mundo real. É então que te vejo, sorris,
cantas e encantas todos a tua volta. E a minha chave funde-se contigo.
Tento impedir que isso aconteça, mas é tarde de mais.
Tornaram-se num só corpo. Aproximo-me de ti, mas não me vês.
Esqueci-me. Não sou visível aos teus olhos.
Fico quieto a olhar para a tua beleza, para o teu brilho,
para a tua luz sem te poder tocar, sentir, amar.
Tão perto e tão longe.
Tens a minha essência fundida com o teu ser e não posso ser
teu, não posso fundir também o meu corpo ao teu.