Meus pés vacilam e não querem obedecer a esta
mente doente e perturbada. São o reflexo do meu Eu. Têm medo de caminhar neste
labirinto irreal e de se arrastar por paredes e tectos musgosos e movediços.
Mas não sabem eles que é necessário percorrer este caminho para sair daqui,
para me libertar destes corpos disformes que se colam ao meu e me tentam manter
cativo. São restos de seres do passado, que não meu, que insistem em sugar a
minha energia e força vital e que gemem de prazer para me ludibriar, fazendo me
crer que é a mim que querem e desejam, mas nunca é. Nunca sou eu o fruto de
desejo, apenas querem de mim aquilo que pensam não ter, mas têm. Preferimos
sempre procurar fora o que temos cá dentro e procuramos cá dentro o que
realmente não temos. Andamos totalmente ao contrário. Como em tudo na nossa existência.
A luz fica intermitente e não consigo vislumbrar
o caminho com a intensidade desejada. E sinto-me perdido. Encosto-me a uma
parede destas, fria, húmida, e sinto umas mãos ardentes, varias mãos, a
acariciar o meu corpo. Acariciam as minhas pernas semi-abertas, o meu peito
flácido, o meu pescoço dorido e o meu rosto peludo. A minha barba contrasta com
estas mãos macias e finas. Elas prendem-me, arrepiam-me e deixo. Fico-me por
aqui. Acabo mesmo por esquecer quem sou e o que desejo para mim. Deixo-me levar
por esta fantasia de desejos mundanos, até ao momento em que me vejo fundir com
a parede e me sinto tornar-me num desses corpos marmoricos vampíricos, sem
forma definida. Então luto, tento me soltar. Não quero a sua realidade, não
quero ficar à espera de mais um ser que passe por aqui, quero ser livre destas
paredes e caminhar seguindo algum caminho, mesmo que não o certo nem o meu.
Aqui não quero estar e também não sei se alguma vez passarás por aqui, por isso
o melhor é não ficar. E, também, se ficar corro o risco de me fundir nestas
entranhas macabras e não irias ser capaz de me distinguir por entre os demais,
não acredito que fosses capaz de distinguir as minhas mãos. Mãos que desejam as
tuas e que anseiam pela tua pele macia e pelo teu vigor. Espero por ti num voo
angelical ao som da brisa suave de um toque de piano. Mas tardas em me
encontrar. Provavelmente vês-me com os olhos do corpo e pela luz do teu passado
e não reparas que sou diferente sem deixar de ser igual.
2 comments:
<3
tudo que posso dizer!
obrigado :)
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