Ando perdido neste fim do mundo
Por terras de Baco
Terras que se incendeiam de verde com salpicos de roxo.
O vento passa pelo meu corpo invisível nesta imensidão de luz multicolor sem deixar vestígios de tempo.
Visto-me de céu e flutuo com asas de fantasia pelos campos sumarentos cheios de vida palpitante
Lavram-se os campos
Podam-se as vinhas
Apanha-se a uva
Tudo passa em ciclos de vida sem que o meu corpo desça à terra para provar da tua boca o néctar divino que embriaga o mundo e devolve a vida ao espírito.
Sou rasto que o sol deixou e o mar envolveu, atirado pelas ondas ao vento para ganhar asas de sonho, passar pelo mundo em busca do teu regaço e me apaixonar pela tua ausência.
Toco nos telhados do vizinho e ouço conversas alheias
Os animais dormem
As crianças sonham
E os corpos descansam.
As raízes elevam-me aos céus e a seiva bruta enche as minhas veias de esperança.
Transponho camadas de realidade em busca de nada e de tudo, já me esqueci de procurar razões de existencialismo. Sou mera natureza e isso chega para alimentar a fé. Fé em ti e na tua essência.
És o ar que me mantêm
És a gravidade que me eleva.
Fecho os olhos e lá vou eu, sem destino, sem razão. Deixo que o acaso me leve envolto em forma tua.
O vinho enche os copos e com eles se faz a festa.
O ar enche-se de música e a vibração alimenta o meu corpo. Mergulho no mar da incerteza e deixo o incenso do teu ser embriagar o cansaço que por vezes sinto.
Recordo me das noites de cera acesa em que a tua ausência era o mote e o meu corpo pelo teu clamava. Gritos de guerra em lençóis vazios e brincadeiras de criança. Sonhos construídos em castelos de areia suspensos em nuvens de fantasia.
Passava os meus dedos pelo areal da minha pele e deixava as ondas do mar dos teus cabelos embriagar e envolver o meu Eu.
Meras recordações vazias, desprovidas de tempo e espaço, desprovidas de consistência e sem ordem definida.
Acreditar que não existes é acreditar que também eu não existo, é crer que não há matéria para ti e para mim.
Vozes animadas despertam os meus sentidos. Estes sentidos humanos que por razões que desconheço não morrem.
2 comments:
bem.. és tu que escreves estas coisas lindas??
Adorei.. mais, mais!!
Muito interessante este texto. Gostei. Parabéns.
Um abraço da Alma
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